domingo, 24 de abril de 2011

A Física dos Corpos – Relações de Poder e Hecceidade.

A física se refere às causas – todos os corpos são causas uns para os outros – Michel Foucault redefiniu a física estóica de Deleuze, em “Lógica do Sentido”, mas os acontecimentos, que são efeitos não lhe pertencem – os corpos ao se chocarem provocam em sua superfície acontecimentos que podem não ser mais causas, ligações que provem da metafísica. Física, portanto, discurso da estrutura dos corpos e metafísica: discurso da materialidade dos incorpóreos.
Gilles Deleuze e Félix Guattari enfatizaram, em “Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia vol. II”, que o corpo do déspota ou do deus tem uma espécie de contracorpo, do supliciado, dos excluídos: corpos que se comunicam. A passagem das formações históricas ou máquinas (megamáquinas) procedem da seguinte forma em relação a organização dos corpos (agenciamento de corpos) num processo de desterritorialização. Michel Foucault em “Vigiar e Punir” salientou a condenação de Damiens, esquartejado (1757) e três décadas mais tarde, a passagem do suplício para a utilização do tempo, as disciplinas na Europa entre XVIII e XIX: “em princípio do século XIX, o grande espetáculo da punição física: o corpo supliciado é escamoteado; exclui-se do castigo a encenação da dor” (p.16). Deste modo, o homem-máquina de La Mettrie – o corpo humano entra numa maquinaria de poder, sob uma disciplina que fabrica corpos submissos, ‘dóceis’ – aumenta as suas forças (econômicas e utilidades) e diminui (em termos políticos, de obediência).
Toda forma é uma composição de relações de forças, no século XVIII, as forças do homem entram em relação com o infinito (forma-Deus), mas no século XIX, essas forças entram em relação com a finitude (forma-Homem). As forças no homem entram em relação com forças do fora, o poder é uma relação de forças, não é uma forma, é uma ação sobre outra ação, constituem uma estratégia que se distinguem nas formações históricas por estratificações (visível e enunciável).
A respeito de uma microfísica, diz Faulkner: no meio das nuvens furiosas e lentamente dissipadas de poeira que nós lançamos uns aos outros. A cada estrato atmosférico corresponde um diagrama das forças: uma estratégia. Se os estratos são da terra (arqueologia do saber, estratificado entre visível e enunciável), então a estratégia (que liga o estratificado) será aérea ou oceânica. A individuação de um dia, de uma estação, de um ano, de um clima, de uma neblina: uma hecceidade, definido por uma latitude e uma longitude, por velocidades e afetos: Latitude de um corpo – afectos que ele é capaz sobre tal grau de potência – ; Longitude de um corpo – os conjuntos de partículas que lhe pertencem sob essa ou aquela relação, velocidades e lentidões: um corpo se define, a partir da perspectiva deleuze-guattariana,  somente pela longitude e pela latitude.
Um grau de calor é perfeitamente individuado o que não se confunde com a substância ou com o sujeito que a recebe. Um dia mais curto ou mais longo são graus de extensão como há graus de calor, cor – um grau, uma intensidade é um indivíduo, hecceidade, que se compõe com outros graus. Uma estação, um inverno, um verão, uma hora não se confunde com a individualidade de uma pessoa ou sujeito.
Uma meteorologia, onde os meteoros vivem no nosso andamento, Michel Tournier escreveu sobre um herói gemelar, dessubjetivado.

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